A Lenda de Atlântida – Mito, realidade, ou os dois?
Disclaimer
A intenção desse conteúdo é expandir a consciência sobre determinados lugares, mitos e histórias contadas em algum momento pela humanidade. Muitas das informações podem não encontrar embasamento científico ou contrariar teorias correntes. O conhecimento, ao longo da história, é constantemente atualizado, construído ou substituído quando há uma compreensão maior. Sendo assim, queremos construir uma abordagem séria, dentro do livre pensamento, e na sua utilização de forma benéfica para a evolução coletiva. Se você gosta desse tipo de conteúdo considere, por favor nos seguir no Instagram e Youtube para mais.
De onde surgiu o mito da Atlântida?
De todos os lugares míticos que são apresentados nas histórias, lendas e contos de filósofos, exploradores antigos e até mesmo alguns curiosos recentes, a Atlântida é a mais famosa. Sua suposta civilização avançada, arquitetura e características povoam filmes, livros e conteúdos, alguns fantasiosos, outros bastante intrigantes.
Mas, com isso tudo vem a questão: A Atlântida realmente existiu? Se sim, com toda a tecnologia recente, por que ainda não foi descoberta?
Platão foi o primeiro a relatar por escrito a lenda da Atlântida nos livros Timeu e Crítias. Mas, não foi ele o primeiro contador dessa história, que é mais antiga que os próprios gregos. Sólon, ouviu a história de um grande sacerdote egípcio da cidade de Saís, que zombou do orgulho dos gregos em serem uma sociedade avançada e bastante civilizada para a época.
“Ó Solon, Sólon, vós gregos sois sempre crianças... sois jovens em alma, cada um de vós. Pois aí [na Grécia] não possuís uma única crença antiga e derivada da antiga tradição, nem uma ciência que seja tão antiga com a era" (PLATÃO. Timeu)
A partir daí, Solon, impressionado com a história, compartilhou-a com seus compatriotas gregos, dando origem aos ricos relatos de Platão.
Nesse sentido, devemos considerar que Platão é um dos filósofos mais respeitados até hoje. Suas obras geraram ideias e fundações para praticamente toda a civilização atual por meio de seus pensamentos. Mas, será que Platão resolveu escrever uma obra de ficção por algum motivo?
O que era a Atlântida e onde ela ficava?
A Atlântida era supostamente uma ilha, continente ou arquipélago, dividida em dez reinos diferentes que abrigava uma capital onde encontrava-se a mítica cidadela dos círculos concêntricos que estamos acostumados a ver em diversas representações novas e antigas.
"Havia montanhas numerosas, próximas à planície da cidade, ricas em habitantes, rios, lagos, florestas em tão grandes números de essências, tão variadas que davam abundância de materiais próprios para todos os trabalhos possíveis. Ora, na planície, pela ação de muitos reis (…) construiu-se um Quadrilátero de lados quase retilíneos e alongados, onde os lados se afastavam em linha reta,(...) cavando-se o fosso contínuo que rodeava a planície. Quanto a profundidade, a largura e desenvolvimento desse canal é difícil de crer que a obra tenha saído das mãos humanas.(...) O fosso recebia os cursos d'água que desciam das montanhas, fazia a volta à cidade, e de lá, ia esvaziar-se no mar.(...) Para carregar a madeira das montanhas, para levar de barco outros produtos de estação, cavavam-se, a partir de canais, derivações navegáveis, de direção oblíqua uma em relação às outras e em relação à cidade." (PLATÃO. Timeu e Crítias)
Além disso, Platão relatou que a mítica ilha localizava-se “Além dos Pilares de Hércules”, que pode ser interpretado como o atual Estreito de Gibraltar e tinha “o tamanho como da Líbia e Ásia Menor juntas”, o que constituía uma grande extensão de terra.
A Atlântida descrita por Platão era um continente onde havia um grande avanço técnico e espiritual de seus habitantes. Essa informação por si só, se real, seria surpreendente ao ponto de que nossa história corrente registra que nessa época só havia homens caçadores e coletores, que viviam em cavernas espalhados pela Europa, Ásia e África. Como seria possível tamanho avanço em uma localidade específica em possível convívio e relacionamento com vários degraus anteriores na escala evolutiva?
Essas perguntas não têm uma resposta clara até hoje, mas, um ponto intrigante é: se a ilha fosse realmente fictícia, por que Platão divagaria tanto em descrever sua localização, tamanho e geografia?
Como a Atlântida desapareceu?
Sólon relata que o fim da Atlântida aconteceu há aproximadamente 11600 anos atrás da época atual (9600 AC). Em um trecho apocalíptico, Platão narra a catástrofe como consequência de um castigo dos Deuses pela ousadia e perdição da avançada sociedade, que se degenerou ao invés de rumar um caminho de virtude.
“...Mais tarde, porém, ocorreram terremotos e inundações portentosas, e um dia e noite dolorosos se abateram sobre eles, quando todos os corpos de seus guerreiros foram engolidos pela terra, e a ilha de Atlântida da mesma maneira foi engolida pelo o mar e desapareceu; portanto, também o oceano naquele local agora se tornou intransponível e insondável, sendo bloqueado pela lama que a ilha criou quando se assentou..” (PLATÃO, Timeu).
Curiosamente, sabe-se que alguns estudos científicos apontam para evidências de uma catástrofe global na mesma época apontada por Platão e Sólon. O fim da última Era Glacial, grandes dilúvios e até mesmo um grande impacto podem ter acontecido exatamente nessa data tão representativa. Mas, não é possível apontar nenhuma evidência concreta da desaparecida ilha no fundo do Atlântico.
De qualquer forma, essas novas descobertas acrescentam mais inquietação em apontar positivamente para relatos orais de culturas pelo globo (mito do dilúvio e um “grande reset”) que antes eram considerados puramente fictícios ou improváveis.
Há evidências da Atlântida? E indícios?
Não há provas cabais da existência da Atlântida até hoje. No entanto, há muitas pistas e indícios que reacendem as discussões de tempos em tempos, especialmente para os estudiosos das culturas, religiões e tradições orais dos povos antigos.
“Agora, nesta ilha da Atlântida, existia uma confederação de reis, de grande e maravilhoso poder, que dominava toda a ilha e também muitas outras ilhas e partes do continente; e, além disso, das terras aqui dentro do Estreito, eles governaram a Líbia até o Egito e a Europa até a Toscana.” (PLATÃO, Timeu)
É interessante observar esse relato de Platão no contexto de que as civilizações mais avançadas dos últimos 5000 anos na Europa e África herdaram deuses, costumes e histórias bastante parecidas. Os Etruscos na Itália, os Egípcios, Minóicos e Fenícios foram grandes herdeiros de tecnologias bastante avançadas para a sua época. Sua Agricultura, Forja, Arquitetura, Astronomia e conhecimento sobre a natureza eram surpreendentes.
Indo um pouco mais longe, no “novo mundo”, a cultura das Américas também mostrava grande sinal de desenvolvimento na construção de pirâmides e igualmente, conhecimentos sobre a natureza, estrelas e agricultura. Caral no Peru é lar da pirâmide mais antiga do mundo, superando inclusive as datações oficiais das pirâmides egípcias. Além disso a cultura Andina e da América Central mostrava sinais de grande desenvolvimento com milhares de monumentos e conhecimentos que remetem a um antigo lar.
Essas pistas que apontam para um elo comum, perdido, são a principal defesa daqueles que acreditam que o fim da Atlântida provocou um êxodo em massa para grandes centros de desenvolvimento do mundo antigo a partir de um ponto central no Atlântico.
Curiosamente, também há relatos orais de muitas culturas antigas sobre figuras civilizadoras que se apresentaram em momentos históricos, envoltos em mistérios e fizeram grandes “milagres” antes de partir. Isso é verdade nos Andes, por meio do mito de Viracocha, na América Central, por meio de Quetzalcoatl e até mesmo no Egito e na Suméria por meio de Thoth e Oannes. Esses seres são descritos como homens com características diferentes do nativos, que navegavam por meio de “serpentes plumadas”, ou então tinham uma vestimenta de “peixe”.
Até mesmo se considerarmos o livro mais famoso da Terra - A Bíblia Sagrada - temos um paralelo à história Atlante, por meio do mito do dilúvio de Noé, causado pela inquietação de Javé com o pecado e a perdição da raça humana. Essa história repete-se no Épico de Gilgamesh, com Utnapishtim e nos textos sagrados Hindus, por meio do herói Manu onde um cataclismo incrível varre a terra sepultando boa parte da tecnologia, crenças e tradição antediluviana.
Por último, mas não menos importante, temos curiosos indícios por meio de lendas de povos ancestrais como os “Deuses que Vieram do Mar” ou os Tuatha de Danann dos Celtas. Avalon (Também interpretada como “Atalan” ou a Ilha das Brumas). Aztlán, o lar ancestral dos povos astecas, lembrando que “Astekah” é a palavra nahuatl para "pessoas de Aztlan” que migraram para o México. O Jardim das Hespérides (maçãs) dos Gregos, situado às margens do oeste do rio Oceano. E o próprio Jardim do Éden, do qual o homem é expulso pela desobediência e desejo de conhecer o bem e o mal.
Os Egípcios, teoricamente, um dos povos herdeiros da tradição antediluviana também contam histórias sobre uma colina que emergiu das águas primevas de Nun e era o principal símbolo do ato da criação. Esse local de criação é registrado especialmente no templo de Edfu, às margens do Rio Nilo.
O que podemos extrair?
Se a Atlântida é uma localização real ou fictícia, ainda há extensos debates sobre isso. Muitos alegam que Platão, com sua história, pretendia narrar um conto que servisse de alegoria para as sociedades da época, e de hoje.
A lição é que uma sociedade poderosa e evoluída, mas que se voltasse cada vez mais para si, seria inevitavelmente destruída pelas suas próprias ambições. Temos inúmeros exemplos ao longo da história que não precisamos citar aqui, inclusive com a própria cultura Grega.
Entretanto, pairam questões como:
Por que Platão descreveria com tanta precisão o local, tamanho e características da mítica ilha?
Por que culturas antigas, mesmo sem, teoricamente, terem contato, descreveriam tão bem esse “lugar sagrado” de onde “o homem foi expulso” e muitas vezes era caracterizada por um continente, ou ilha além mar?
Quais outras evidências a ciência pode nos fornecer hoje que coincidem com catástrofes naturais que ocorreram nessa época?
Não é difícil pensar que podemos ser um povo com amnésia. A mítica cidade de Tróia foi descoberta recentemente, quando se acreditava que era apenas uma criação da mente de filósofos e trovadores. Outras descobertas têm sido feitas no fundo dos oceanos, em densas florestas, e até mesmo abaixo de camadas de metros de pedras, lama e solo. Mas, para isso, devemos continuar juntando as pontas entre os mitos e a ciência.
Continuemos a explorar! Até a próxima!