Lições Práticas de A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen

A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen é um livro que não pode faltar na sua jornada para a automaestria. O mais curioso é que eu peguei a referência dessa leitura antiga em um livro que me impactou bastante: O Jogo Interior do Tênis. Pelo que li, o próprio Tim Galloway bebeu dessa fonte límpida para se inspirar a escrever a famosa obra lida pelos maiores indivíduos de alto desempenho nos esportes.

Mas, o mais curioso é que a Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen não é um livro focado em práticas, em esportes, ou sequer no conceito de sucesso. Todos esses conceitos são jogados por terra já no prefácio da minha edição onde é dito o seguinte:

“Mestre, discípulo, arco, flecha, alvo: essas são as personagens que esperam pelo leitor nas páginas que se seguem. Mas, tal encontro exigirá, por parte do leitor, algumas abdicações. A lógica do pensamento ocidental deve ser posta de lado. A estrutura do cartesianismo reduzida a cinzas. A relação causa-efeito desprezada. A separação sujeito-objeto, ignorada. O tédio, ridicularizado. Mas a paixão pela vida, enaltecida.”

Essa frase já resume o espetacular conteúdo que será visto mais adiante por meio da prática da arte do arco pelo autor durante anos a fio no Japão. Entusiasta de Zen e Misticismo, Eugen Herrigel busca por um mestre que ensinasse o caminho para a Doutrina Magna através de uma forma nada convencional.

Mais do que uma jornada para a perfeição técnica, a prática do arco e flecha com o Mestre Zen é uma jornada para dentro de si mesmo em busca de autoconhecimento e desprendimento. O autor durante muitos momentos busca por meio da prática e repetição, a infalibilidade nos tiros e a melhoria para acertar o centro do alvo. Apesar de parecer o mais óbvio, esse caminho apenas o afasta cada vez mais do seu objetivo conforme o Mestre o faz tediosamente executar os movimentos orientando para que ele o faça da forma mais meditativa possível.

Recomendo que leiam essa incrível obra para entender bem. Apesar de uma leitura complexa e cheia de significados, vou tentar passar aqui de uma forma resumida as maiores lições que pude extrair da minha leitura e reflexão:

A importância do ritual para a ação

Em vários momentos no livro o autor destaca a seriedade e a importância dos rituais antes da execução da atividade em si. Esse ritual é um momento de conexão do mestre e do autor e pode ser visto na metódica preparação das tintas, diluição, organização dos materiais e do local de trabalho de forma silenciosa para um pintor, por exemplo. Da mesma maneira as sessões de arco e flecha são antecedidas pela cerimônia do chá no livro e por toda uma reverência anterior ao ato do tiro em si.

Dessa forma uma sintonia superior e meditativa pode ser alcançada com a obra que será realizada sem esforço algum, sendo completada quase que por si mesma.

A espiritualização da ação para a perfeição

Um ponto importante que me chamou bastante a atenção no livro é a espiritualização da ação como meio para atingir a perfeição. Esse fator é bastante parecido com o que Tim Galloway descreve no Jogo Interior do Tênis como o Ser 2, ou seja, seu subconsciente.

O Mestre insiste durante várias ocasiões para que o aluno não se esforce para realizar a ação. Uma ação independente do esforço mental e concentrada apenas na respiração passa a ser determinante para que Eugen entenda que segurar o arco de forma espiritual é o grande segredo para vencer a resistência da atividade pouco hábil.

Aqui vale um paralelo incrível com as artes marciais, no que ele chama de “arte gentil” a tradução literal da palavra jiu-jitsu onde você prostra o adversário utilizando nenhuma força e e recuando de forma elástica e imprevista até cansá-lo.

Conforme o próprio mestre diz:

“Não pense no que deve fazer ou em como fazê-lo! Somente se o próprio arqueiro se surpreender com a saída da flecha é que o tiro sairá suavemente.”

O desapego dos resultados finais para a Automaestria

Por último, mas não menos importante, quando Eugen já estava anos a fio treinando e alcançando alguns resultados, o Mestre Zen lembra-o de uma coisa muito importante:

“A arte genuína não conhece nem fim nem intenção. Quanto mais obstinadamente você se empenhar em aprender a disparar a flecha para acertar o alvo, não conseguira nem o primeiro e muito menos o segundo intento. O que obstrui o caminho é a vontade demasiadamente ativa. Você pensa que o que não for feito por si mesmo não dará resultado.”

E se você que chegou até aqui acha que o grande objetivo esse tempo todo da arte do arco era atingir o alvo, pense novamente. Para alcançar o último grau de autoconhecimento, o Mestre diz a Eugen que é necessário ignorar a presença do alvo, pois apenas acertá-lo é um exercício que pode ser facilmente aprendido, e além de exibicionista, não mostra o real significado do caminho da Doutrina Magna.

A verdadeira luta se resume não a acertar ou errar o alvo em si, mas sim a luta do arqueiro consigo mesmo em busca da perfeição. Envergonhar-se do erro e vangloriar-se dos acertos nada mais é do que uma armadilha pela busca da libertação das emoções com imparcialidade e calma. Essa é a máxima importância da prática Zen.

Gostaram? Vejo vocês no próximo nível!