Os Tesouros de Coricancha

Disclaimer

A intenção desse conteúdo é expandir a consciência sobre determinados lugares, mitos e histórias contadas em algum momento pela humanidade. Muitas das informações podem não encontrar embasamento científico ou contrariar teorias correntes. O conhecimento, ao longo da história, é constantemente atualizado, construído ou substituído quando há uma compreensão maior. Sendo assim, acreditamos no livre pensamento e na sua utilização de forma razoável e benéfica para a evolução coletiva.

A história perdida

“A História é escrita pelos vencedores” – George Orwell

A afirmação de que a História constantemente é escrita pelos vencedores é um pensamento que deve ser examinado com bastante atenção, especialmente quando se trata da América Espanhola e antes.

Sabemos ainda pouco sobre o período pré-colombiano, e menos ainda sobre a pré-história das Américas. Mesmo que tenhamos grandes esforços por parte de historiadores e instituições locais destes lugares riquíssimos em descobertas, ainda não se comparam ao poderio financeiro e científico de muitos que exploraram amplamente esses locais em algum momento no passado e ainda no presente.

Muitas coisas que ali estavam não estão mais considerando os paradigmas culturais, religiosos e econômicos de cada época. Ouro foi levado, culturas foram alteradas, religiões e cultos foram modificados. A História, contada pelas mentes daqueles que viviam outras realidades. Mas, será que ainda podemos olhar para o passado sem esse véu moderno?

O que foi Coricancha?

Coricancha, Qorikancha, ou Qurikancha (em quéchua, "recinto de ouro" ou "templo dourado"), em Cusco no Peru, foi uma construção Inca e um dos mais importantes complexos arqueológicos sagrados daquele povo.

O complexo religioso de Coricancha na capital inca em Cusco continha o Templo do Sol, que não era apenas o local mais sagrado da religião inca, mas era considerado o centro do mundo dessa civilização. O local também era dedicado aos deuses mais altos do panteão Inca, como o deus criador Viracocha, a deusa da lua Quilla e Inti, o deus do sol.

O interior do local, segundo as histórias, era COBERTO de ouro. Relatos diziam que o ouro era considerado o suor do sol – que era batido em chapas. Havia, supostamente, 700 dessas folhas de meio metro quadrado, cada uma pesando 2 kg. Quase uma tonelada e meia de ouro puro.

Representação hipotética dos murais de ouro de Coricancha - Museo Oro del Perú y Armas del Mundo - © Manuel González Olaechea y Franco

Até mesmo as estátuas e objetos eram completamente dourados. O objetivo do lugar, bem como seu uso, idade e história pré-colombiana é praticamente desconhecido. As paredes externas são compostas de blocos megalíticos perfeitamente encaixados (mesmo sem cimento) onde em alguns pontos, nem mesmo um alfinete poderia ser colocado, tamanha a precisão.

Alguns pontos nos blocos também contam com marcações misteriosas onde ainda não há consenso sobre o seu propósito. Há muitas teorias alternativas que giram em torno, também, da construção do local com uma tecnologia deveras avançada para um povo considerado “primitivo”.

A Invasão e o Saque de Coricancha

Pedro de Cieza de León [1] descreve um Jardim Dourado em seu relato de 1554:

"No mês de outubro do ano do Senhor de 1534, os espanhóis entraram na cidade de Cusco, capital do grande império dos Incas, onde ficava sua corte, bem como o solene Templo do Sol e suas maiores maravilhas. O sumo sacerdote abandonou o templo, onde [os espanhóis] saquearam o jardim de ouro e as ovelhas [lhamas] e pastores deste metal junto com tanta prata que é inacreditável e pedras preciosas, que, se fossem coletadas, valeriam uma cidade."

Inca Gold Sun Mask - Andrew Howe - CC BY-NC-SA

A maior parte do ouro do local foi derretido em lingotes e levado para a Coroa Espanhola. A peça estrela, a estátua dourada de Inti, foi levada para um local seguro quando os espanhóis chegaram, mas diz que eles a encontraram trinta anos depois, em 1572 quando desapareceu sem deixar vestígios, provavelmente derretida como tantos outros artefatos Incas.

O que é Coricancha hoje?

Pouco resta hoje, exceto algumas seções de suas belas paredes de pedra que sugerem o tamanho massivo do local e as histórias lendárias que falam da enorme quantidade de ouro usada para decorar os templos e seu jardim dourado.

A porta de entrada bastante simples do complexo sobrevive com o seu típico batente duplo, assim como trechos das paredes externas e algumas paredes internas. O mosteiro cristão de Santo Domingo foi construído no topo do complexo, sem dúvida, em uma tentativa deliberada de significar que uma religião havia sido substituída por outra.

Wikipedia - Arquiteturas sobrepostas de Coricancha e o Convento de Santo Domingo nos dias de hoje. - CC BY-SA 2.5 es

Seria também uma forma de reconhecer ou aproveitar um local de grande importância espiritual da mesma forma que outros sítios pelo mundo?

Possíveis (e impossíveis) tesouros não recuperados

Há diversas lendas que contam que na fuga dos Incas, muitos tesouros foram levados por eles para cavernas, montanhas e outros sítios da região. Obviamente os sacerdotes escolheriam os artefatos e objetos mais importantes para serem carregados e deixariam aqueles de menor grau para trás.

Como dissemos anteriormente, mais de uma tonelada e meia de ouro puro foram achadas em forma de murais completamente engravados. Em outros locais pelo mundo não é incomum ver a história dos povos escritas por tintas em paredes, papiros, e lascada em pedra. Qual seria o valor da história não contada, derretida nesses murais?

Podemos especular que pode haver muitos itens e artefatos perdidos de Qoricancha, ainda passivos de serem achados em um momento mais auspicioso. Talvez nesse momento, homens de maior entendimento poderiam compreender o seu objetivo e ligações com os elos perdidos da história americana e todos os seus mitos.

As similaridades de muitos contos Incas são impressionantes, considerando a religião e mitologia indo-europeia. Mas, esse é um ponto que vamos explorar melhor num próximo conteúdo. Até lá!

Referências

[1] Pedro Cieza de León, The Discovery and Conquest of Peru: Chronicles of the New World Encounter, ed. and trans. Alexandra Parma Cook and Noble David Cook (Durham and London: Duke University Press, 1998), 316–19.

https://www.worldhistory.org/Coricancha

https://pt.wikipedia.org/wiki/Coricancha