O Mistério dos Crânios Alongados do Peru – Ciência x Mito

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A intenção desse conteúdo é expandir a consciência sobre determinados lugares, mitos e histórias contadas em algum momento pela humanidade. Muitas das informações podem não encontrar embasamento científico ou contrariar teorias correntes. O conhecimento, ao longo da história, é constantemente atualizado, construído ou substituído quando há uma compreensão maior. Sendo assim, queremos construir uma abordagem séria, dentro do livre pensamento, e na sua utilização de forma benéfica para a evolução coletiva. Se você gosta desse tipo de conteúdo considere, por favor nos seguir no Instagram e Youtube para mais.

Crânios Alongados?

Mesmo com presença em todo o globo, crânios de formato estranho, mais alongado que o normal e com peculiaridades anatômicas são extremamente comuns em tumbas, necrópoles e escavações no Peru. O que eles simbolizam? Por que eram assim? Qualquer incauto ao observar isso pode dar asas à imaginação e pensar em alienígenas, criaturas monstruosas ou super-humanos.

Há uma alta concentração desses crânios na cultura Paracas. Descobertos em 1928, pelo arqueólogo peruano Julio Trello, ao todo foram encontradas mais de 400 múmias na chamada necrópole de Wari Kayan, localizada na região de Ica, no sudoeste do Peru.

Foto minha. Museo de Arte Precolombino

O que se sabe hoje pela ciência é bastante interessante, mas sabemos também que há divergências com relação ao que é contado pela tradição oral, em mitos e histórias. Por isso, vamos investigar um pouco e colocar aqui um pouco das percepções das nossas explorações.

Os crânios existem apenas no Peru?

A deformação craniana foi comum entre muitos povos desde tempos remotos, mas as técnicas variavam assim como os formatos obtidos (alongado, achatado etc.).

Hipócrates, descreve uma tribo africana, os macrocéfalos ou “cabeças grandes”, chamados assim pela prática de deformação craniana.

No Egito, a descoberta de uma múmia, supostamente de Akhenaton, revelou que o costume também teria existido entre os faraós egípcios, como já era observado em muitas esculturas e pinturas. Há quem afirme que a rainha Nefertiti, sua esposa, também possuía o crânio alongado.

Akhenaton (Amenhotep IV) was an Egyptian pharaoh who ruled from 1367 BCE to 1350 BCE. This statue shows one of his daughters with an elongated skull. It is thought that both the pharaoh and his daughters had this condition. - Wikipedia

Na América, a deformação craniana existiu entre os maias da Mesoamérica, e povos nativos dos Estados Unidos.

No Velho Mundo, os Alanos do planalto do Irã, os Hunos e algumas tribos germânicas também adotaram esse costume. No final do século XIX, o geógrafo e etnólogo alemão Friedrich Ratzel (1844-1904) relatou deformações cranianas em populações nativas do Taiti, Samoa e Havaí. A prática persistiu até nossos tempos entre os mangbetu, da República Democrática do Congo, e os Vanuatu, na Melanésia (a noroeste da Austrália). [1]

Portrait of Alchon Hun king Khingila, from his coinage, c. 450 CE.

O que a teoria científica prega?

Foram feitos grandes avanços científicos e algumas descobertas no século XX mostrando que os crânios alongados são produto de uma intervenção humana ainda cedo para moldar o crânio do recém-nascido utilizando pressão e tração contínua. Essa tração pode ser feita por meio de faixas bastante apertadas ou equipamentos, especialmente quando o crânio ainda está em fase de crescimento em uma forma mais macia.

Painting by Paul Kane, showing a Chinookan child in the process of having its head flattened, and an adult after the process - Wikipedia

An anatomical illustration from the 1921 German edition of Anatomie des Menschen: ein Lehrbuch für Studierende und Ärzte with Latin terminology - Wikipedia

A teoria é bastante crível e provável. Até hoje muitos povos no mundo usam de técnicas semelhantes para alongamento de pescoços, alargamento de lábios, orelhas e até mesmo da cabeça e outros membros. Os museus mostram muito bem isso, mas o motivo dos crânios ainda é um pouco obscuro. Alguns alegam que seria para “se parecer” com outras culturas e povos mais antigos que denotavam nobreza.

Será que podemos cobrir um pouco mais esse terreno por versões contadas pela mitologia e tradição oral?

 

O que as tradições orais, mitos e lendas Peruanas contam?

Mitos andinos contam que há muito tempo viviam na terra homens cujo poder era capaz de fazer as rochas se moverem à vontade ou transformar montanhas em planícies. “Os Gentios” viviam muito sossegados, trabalhando seus campos e coletando metais preciosos que usavam para fabricar suas ferramentas. Conta a história que trabalhavam à noite sob a proteção dos raios da lua pois não suportavam o sol.

Em um momento crucial, descobriram que o sol de alguma forma iria “despertar” e seus raios iriam queimá-los. O medo os fez optar por fazer buracos no chão e se enterrar para se proteger, pensando em deixar seus esconderijos logo em seguida.

Esconderam-se com a família e todas as suas ferramentas e roupas. As mães, amarraram os filhos amarrados para não se soltarem e todos abrigaram-se de cócoras. De alguma forma, todos morreram debaixo da terra. É por isso que acreditam que atualmente pode-se ver os restos humanos subterrâneos nessa exata posição. [2]

Imagem de caverna em Huancavelica com o esqueletos de “Gentios”. - Canal Franz - Youtube

Para os Vanuatu, a pessoa com cabeça alongada era considerada sábia e mais próxima do mundo dos espíritos. Curiosamente, na cultura basca também há referências a esses homens, “Los Gentiles” dotados de força sobre-humana, que moviam grandes pedras para lugares distantes e eram os construtores de monumentos megalíticos.

Representação pitoresca de “Los Gentiles” na cultura Basca

Stonehenge, England, 2nd quarter of the 14th century, Egerton MS 3028, f. 30r

Não vamos nos alongar aqui nos relatos de outros locais, mas isso em si merece um aprofundamento maior em um conteúdo futuro.

Até hoje, pode ser visto e ouvido em vilas no interior do Peru, relatos de pessoas mais velhas se referindo aos portadores dos crânios alongados como “Gentios”, talvez pela própria herança católica colonial. Muitos também dizem que eles são “amaldiçoados”.

 

O que é verdade então?

Seria bastante inapropriado de nossa parte fazer afirmações aqui olhando apenas para as histórias orais e mitos. Devolveremos aqui com outras perguntas, dado que os estudos científicos ainda não alcançaram algumas lacunas interessantes como:

  • Por que os povos, não só Incas, tinham tanto interesse nos crânios alongados?

  • De onde veio a ideia do “mito da superioridade” dos crânios alongados pelo mundo? Há fundamento em pensar em genética?

  • Como todos os povos, espalhados pelo mundo, sabiam que esse formato de crânio era algo “bacana”? Teriam eles tido contato, ou seria o sinal de uma tradição muito antiga?

  • Qual seria a explicação para os crânios desproporcionalmente alongados em recém-nascidos como o Wayqui? Seria uma fraude, ou um esforço desconhecido?

  • Há discussões sobre algumas diferenças anatômicas dos crânios alongados para crânios “normais”. Há fundamento nessas discussões?

Para cada resposta, muitas perguntas. Tendo isso em vista, continuamos a explorar, caminhando entre os pilares dos mistérios e conhecimentos do passado e o rigor da ciência para construir novas vias de conhecimento, sem preconceitos e sensacionalismo.

A verdade está lá fora!

Referências

[1] - https://ensinarhistoria.com.br/paracas-polemica-dos-cranios-alongados

[2] - https://reporteobligado.com/reporte-el-mito-de-los-gentiles-soqsa-en-pitumarca

[3] - https://en.wikipedia.org/wiki/Artificial_cranial_deformation