A Lemúria Perdida de W. Scott-Elliot - Fato ou Ficção?

Introdução

Em um dia comum explorando um sebo, me deparei com um livro intrigante: O nome do livro é "La Perdida Lemuria" (A Lemúria Perdida), de W. Scott-Elliot. Dentro dele, dois mapas antigos capturaram imediatamente minha atenção. Cada detalhe desse livro de 1911 parecia ter um segredo à espera de ser desvendado. Esse encontro inesperado despertou em mim uma curiosidade irresistível sobre a misteriosa Lemúria, um alegado continente perdido que desafia os limites da história, mitologia e espiritualidade. Seria possível que esses mapas antigos pudessem guardar pistas reais de um mundo que se perdeu no tempo?

A jornada para entender a Lemúria é uma aventura intelectual e imaginativa. Por trás das lendas e dos mapas, encontramos narrativas que misturam ciência, misticismo e o desejo humano de compreender o inexplicável. Neste conteúdo, eu convido você a explorar o que eu descobri sobre a Lemúria e a refletir sobre o que ela pode nos ensinar sobre nossa própria jornada enquanto civilização.

Assim, com um livro misterioso em mãos e mapas que evocam terras perdidas, embarcaremos em uma investigação sobre o que é realidade, o que é mito e certamente em muita inspiração.

 

O Que é a Lemúria?

A Lemúria é um dos grandes enigmas da humanidade. Ela foi proposta inicialmente no século XIX como uma explicação científica para a distribuição de certas espécies animais, como os lêmures. A ideia foi tão estranha que logo transcendeu a biologia. Só para vocês entenderem, cientistas sugeriram que um vasto continente poderia ter existido no Oceano Índico, conectando áreas como Índia, Madagascar e Austrália. Apesar de a teoria ter sido esquecida aos poucos, a noção de uma terra perdida permaneceu viva no imaginário coletivo.

Crédito: Ernst Haeckel: The History of Creation (1876), tradução revisada por E. Ray Lancaster / Domínio público

A Sociedade Teosófica foi uma das principais responsáveis por transformar a Lemúria de uma hipótese científica em um mito espiritual. Helena Blavatsky, uma das fundadoras do movimento e descreveu os lemurianos como seres espiritualmente avançados que habitavam o planeta muito antes das civilizações conhecidas. Suas narrativas abriram caminho para que outros escritores, como W. Scott Elliot, expandissem a lenda.

Eliott, em seu livro "La Perdida Lemuria", descreveu uma civilização cheia de mistérios e poderes extraordinários, mas que acabou sendo destruída por cataclismos. Qualquer semelhança com a Atlântida não é mera coincidência. Sua obra apresenta um retrato detalhado de como esses antigos habitantes eram, viviam e se relacionavam com o mundo. Segue aqui uma descrição de um Lemuriano, segundo Elliot.

Tomaremos como modelo descritivo os homens de uma das últimas sub-raças, provavelmente a quinta. Eles eram de estatura gigantesca (de 3,70m a 4,60m), pele amarelada muito escura, mandíbula inferior alongada, rosto plano, olhos pequenos e tão afastados um do outro que viam a mesma coisa de frente que de lado, enquanto o terceiro olho, aberto no topo da cabeça, onde, como é natural, nenhum cabelo brotava, também lhes permitia ver naquela direção. No lugar da testa eles tinham uma faixa de carne, e a cabeça contornava em um viés para frente de uma maneira estranha. Os braços e as pernas, especialmente estes, eram proporcionalmente mais longos que os nossos e não podiam ser dobrados em ângulo reto no cotovelo ou no joelho. As mãos e os pés eram enormes e os calcanhares se alongavam para trás. Eles carregavam o rosto coberto com uma pele solta, algo parecido com o do rinoceronte, mas mais escamoso, que sem dúvida seria de algum animal hoje fóssil.

- A Lemúria Perdida

 

Afinal quem foi W. Scott-Elliot?

William Scott-Elliot (1849–1919) foi um autor e teosofista britânico conhecido por seus escritos sobre continentes perdidos, como a Atlântida e a Lemúria. Ele era membro da Sociedade Teosófica, uma organização espiritual fundada por Helena Blavatsky que combinava filosofia oriental e esoterismo ocidental. Scott-Elliot não era um pesquisador acadêmico no sentido tradicional, mas baseava seus trabalhos em "revelações" e no que ele acreditava serem registros históricos captados por meios psíquicos.

Seus livros mais conhecidos são The Story of Atlantis (1896) e The Lost Lemuria (1904), que mais tarde foram publicados juntos. Neles, Scott-Elliot descreve detalhadamente as civilizações que supostamente habitaram esses continentes. Essas descrições foram fortemente influenciadas pelos ensinamentos teosóficos e por informações transmitidas por figuras da Sociedade Teosófica, que afirmavam possuir habilidades clarividentes.

Embora suas ideias sejam amplamente desacreditadas pela ciência moderna, os trabalhos de Scott-Elliot ajudaram a popularizar os mitos da Atlântida e da Lemúria, inspirando outros escritores e místicos ao longo do século XX.

 

Os Mapas e o Livro

Esses dois mapas antigos e extremamente raros que encontrei ao lado do livro "La Perdida Lemuria" trouxeram uma dimensão visual às histórias que Elliot narra. Um deles mostra o que parecia ser um vasto continente afundado ocupando parte do Oceano ao redor do mundo inteiro. O outro, bem parecido, parece ilustrar a Lemúria em sua extensão total de acordo com o próprio autor. Seriam esses mapas simples representações artísticas, ou eles escondem algo a mais neles?

Mapa da Lemúria em sua maior extensão e nos últimos momentos - W. Scott-Elliot

O livro de Elliot, por sua vez, é um tesouro para os buscadores, curiosos e amantes do misticismo. Nele, encontramos uma descrição rica de como os lemurianos teriam vivido, desde suas estruturas sociais até seus avanços espirituais. As histórias de destruição do continente, devido a enormes cataclismos, ecoam narrativas semelhantes sobre a Atlântida e outros continentes perdidos. Mas, o livro também apresenta um desafio: distinguir onde termina a história e começa a lenda.

Ao conectar os detalhes dos mapas com as descrições do livro, surge uma narrativa que nos transporta para um mundo de possibilidades. Esses objetos podem não ser apenas peças de coleção, mas portas para um passado alternativo ou, talvez, para um espaço puramente simbólico em que mito e significado se encontram. Ao longo das minhas viagens pelo mundo, consegui ver muitas histórias similares no Peru, Mediterrâneo e até em alguns trechos da Ásia, na Indonésia.

 

Helena Blavatsky e a Lemúria Espiritual

Agora vou entrar em um terreno bastante fantástico que é a Lemúria Espiritual e não mais geográfica. Segundo a Madame Helena Blavatsky a Lemúria é um dos continentes perdidos que fazem parte da tradição esotérica desenvolvida na Teosofia. Blavatsky aborda o tema especialmente em seu livro "A Doutrina Secreta", onde descreve a Lemúria como o lar do que é chamado de terceira raça-raiz da humanidade, anterior à Atlântida.

Os lemurianos, de acordo com Blavatsky, eram seres muito diferentes da humanidade atual. Eles não eram completamente físicos como nós. Inicialmente, eram etéreos, quase translúcidos, mas, ao longo de sua evolução, começaram a se materializar. Possuíam corpos gigantescos e imponentes, com vários metros de altura, mas não eram refinados como os seres humanos modernos.

Os lemurianos tinham uma conexão mais íntima com os planos espirituais. Sua espiritualidade não era baseada em religiões organizadas, mas em uma percepção e conexão direta das forças universais. Segundo Blavatsky, os lemurianos viviam em harmonia com as energias da natureza e tinham um senso de unidade cósmica.

Blavatsky afirma que a Lemúria acabou destruída por uma série de cataclismos naturais, incluindo terremotos e erupções vulcânicas massivas. Isso aconteceu porque a Terra estava em um processo de transformação, e a humanidade precisava evoluir para um estado mais materializado e intelectual, o que ocorreu com a raça atlante.

 

Conexões e Controvérsias

A ideia de um continente perdido sempre despertou fascínio, mas também controvérsia. A ciência moderna explica a distribuição das espécies por meio da tectônica de placas e rejeita a ideia de um continente como a Lemúria. No entanto, o conceito continuou a prosperar no campo do misticismo, nas tradições orais dos povos e da cultura popular.

Lendas de continentes perdidos não são exclusivas à Lemúria. Atlântida, Mu e Kumari Kandam, por exemplo, são mitos que ecoam o mesmo desejo humano de encontrar um elo perdido com o passado. No caso da Lemúria, há também uma ligação com narrativas de ascensão espiritual, sugerindo que esses povos antigos alcançaram um nível de consciência que ainda buscamos compreender.

Ao investigar o mito da Lemúria, é inevitável pensar em outros locais que desafiam nossa compreensão da história, como a cidade submersa de Dwarka, na Índia. Dwarka, mencionada em textos antigos como o Mahabharata, foi considerada por muito tempo apenas uma lenda até que escavações submarinas revelaram estruturas incríveis na costa indiana. Assim como Lemúria, Dwarka desperta perguntas sobre o que é mito e o que é história. As semelhanças entre essas narrativas nos convidam a reconsiderar a possibilidade de que lendas de continentes ou cidades perdidas possam conter um núcleo de verdade, ainda esperando para ser desvendado.

Dwarka, parte continental e não-submersa.

A obra de Elliot e os mapas também levantam questões sobre a fronteira entre conhecimento e imaginação. Até que ponto essas histórias são uma tentativa de explorar o desconhecido, e onde elas se tornam meras projeções de nossos anseios e temores coletivos? Essa é uma reflexão essencial ao abordar a Lemúria como mito.

 

Conclusão

Ao folhear as páginas de "La Perdida Lemuria" e observar os detalhes enigmáticos dos mapas, eu fui tomado pela ideia de que a busca pela Lemúria é mais do que uma exploração arqueológica ou geográfica. Ela é um convite a uma viagem interior e à reflexão sobre o passado, os mistérios e o futuro da humanidade.

Afinal, a Lemúria pode ser tanto um mito quanto uma memória coletiva. Ela pode ser até uma lembrança de tempos em que nossos ancestrais buscavam compreender seu lugar no universo, ou um símbolo do que almejamos ser. E assim, a cada descoberta, seja de um mapa ou de um livro, continuamos essa busca eterna por significado e conexão.

Espero que com esse livro possamos olhar para a Lemúria não apenas como um continente perdido, mas como uma inspiração para nos encontrarmos no meio do vasto oceano de nossa própria existência. Afinal, a verdade está lá fora! Um abraço e até a próxima!