Bestas, Homens e Deuses: A Jornada de Ossendowski e o Mistério do Rei do Mundo

Ferdinand Ossendowski foi um explorador, cientista e escritor polonês que, em meio ao caos da Revolução Russa, embarcou em uma jornada épica pela Ásia Central. Fugindo dos bolcheviques, ele atravessou a Sibéria, a Mongólia e o Tibete, registrando não apenas os desafios de sua fuga, mas também os mistérios e crenças que permeavam essas terras. O resultado dessa incrível aventura foi o livro Bestas, Homens e Deuses, publicado em 1922, no qual ele descreve suas experiências e os relatos enigmáticos que ouviu sobre uma entidade misteriosa conhecida como o Rei do Mundo.

Essa figura lendária, segundo Ossendowski, seria o guardião de uma civilização oculta situada em um reino subterrâneo chamado Agartha. A ideia de um reino oculto sob as montanhas da Ásia ressoa em diversas tradições esotéricas e religiosas, despertando o interesse de místicos, ocultistas e exploradores. Mas quem era, de fato, o Rei do Mundo? E até que ponto os relatos de Ossendowski refletem uma verdade perdida, ou um mito?



A Fuga de Ossendowski e a Chegada à Mongólia

Ossendowski começou sua jornada como um cientista e político, mas sua fuga dos bolcheviques o levou a um caminho muito além da política e da ciência. Ao atravessar a Sibéria gelada e os vastos desertos da Mongólia, ele encontrou nômades, lamas budistas e líderes espirituais que compartilhavam segredos ancestrais sobre forças ocultas que regiam o destino do mundo. Em meio à instabilidade política da época, Ossendowski testemunhou rituais e ouviu histórias que pareciam pertencer mais ao domínio do misticismo do que ao mundo material.

Ao chegar à Mongólia, ele encontrou o Barão Roman von Ungern-Sternberg, um líder militar excêntrico que via a si mesmo como um instrumento do destino. Ungern acreditava profundamente nas profecias do Oriente e na existência de forças espirituais superiores que guiavam a humanidade. Foi nesse contexto que Ossendowski começou a ouvir relatos mais detalhados sobre Agartha e seu soberano enigmático, o Rei do Mundo, uma entidade que, segundo os mongóis, influenciava diretamente os eventos da superfície.

No livro, Ossendowski descreve o encontro com Ungern-Sternberg como algo quase surreal. Ele retrata o barão como uma figura aterrorizante, um guerreiro ascético que desprezava o conforto e vivia em constante estado de batalha, cercado por soldados mongóis e tibetanos fanáticos. Há relatos de que Ungern-Sternberg consultava lamas e oráculos para tomar decisões estratégicas e que sua aura de misticismo lhe dava um poder quase sobrenatural sobre seus seguidores.

O Barão conseguiu tomar Urga (atual Ulaanbaatar) dos chineses em 1921 e restaurou o governo do Bogd Khan, o último governante budista da Mongólia. No entanto, seu reinado foi curto. Poucos meses depois, foi capturado pelo Exército Vermelho, julgado e executado.



O Rei do Mundo e o Reino Subterrâneo de Agartha

O Rei do Mundo, segundo as tradições tibetanas e mongóis relatadas a Ossendowski, seria uma figura iluminada, governando uma civilização avançada escondida nas profundezas da Terra. Em seu livro, ele descreve como monges e sábios acreditavam que esse soberano exercia uma influência direta sobre os líderes políticos e espirituais do mundo exterior. De tempos em tempos, ele enviava mensagens telepáticas ou manifestações sutis para guiar a humanidade nos momentos críticos da história.

A ideia de um reino subterrâneo como Agartha não é exclusiva dos relatos de Ossendowski. Tradições hindus falam de Shambhala, um reino oculto de sabedoria, e o próprio escritor francês Saint-Yves d’Alveydre já havia popularizado o conceito de Agartha antes de Besta, Homens e Deuses. No entanto, Ossendowski alegava ter ouvido essas histórias de fontes diretas no Oriente, tornando seu testemunho uma das peças mais intrigantes sobre esse enigma.

Ossendowski tem um conceito de Shambhala muito próximo do pensamento de Nicholas Roerich, mas a visão deste último sobre o reino oculto está mais próxima das tradições budistas. Em sua obra Shambhala: Em Busca da Nova Terra, Roerich fala sobre sua própria expedição pelo Tibete, Mongólia e Índia, buscando vestígios dessa terra sagrada.

Enquanto Ossendowski retrata Agharta como um centro de poder que governa o mundo em segredo, Roerich vê Shambhala como uma promessa de evolução espiritual, conectada à Nova Era e ao advento de uma civilização mais iluminada.

Alguns trechos do livro com relatos do próprio autor me impressionaram. Se são verdade ou ficção, deixo a vocês que pensem, pesquisem e decidam:

…Esse reino chama-se Agharta, e estende-se por todas as passagens subterrâneas do mundo inteiro. Eu ouvi quando um sábio Lama chinês disse ao Bogdo Khã que todas as cavernas subterrâneas da América são habitadas pelo povo antigo que desapareceu embaixo da Terra. Existem ainda vestígios na superfície da Terra. Estes povos e estes domínios subterrâneos são governados por chefes que reconhecem a soberania do Rei do Mundo. Nisso não há nada de extraordinário. Você sabe que nos dois maiores oceanos do leste e do oeste noutros tempos encontravam-se dois continentes. (Atlântida e Mu) Eles foram engolidos pelas águas mas seus habitantes foram levados ao reino subterrâneo. Aquelas cavernas profundas são iluminadas por uma luz especial que permite o crescimento dos cereais e dos vegetais e proporciona aos habitantes uma vida longa e sem doenças. Lá estão muitos povos, muitas tribos. Um velho brâmane budista do Nepal estava cumprindo a vontade dos deu-ses, viajando para o antigo reino de Gengis Khã, o Sião, quando encontrou um pescador que lhe pediu que entrasse em seu barco e remasse sobre o mar…

- Príncipe Chultun Beyli

— Alguém já viu o Rei do Mundo? - perguntei.
- Sim — respondeu o Lama. — O Rei do Mundo apareceu cinco vezes durante os festejos do budismo antigo no Sião e na India. Ele estava numa esplêndida carroça puxada por elefantes brancos, enfeitados de ouro, pedras preciosas e seda; usava uma capa branca e levava na cabeça uma tiara vermelha, da qual caíam franjas de diamantes que lhe cobriam o rosto. Abençoava o povo com uma maçã de ouro encimada de um cordeiro. Os cegos voltaram a ver, os surdos voltaram a ouvir, os doentes voltaram a andar e os mortos saíram de seus túmulos em todos os lugares em que o Rei do Mundo passou, Faz cento e quarenta anos ela apareceu em Erdeni-Dzu e depois visitou também os mosteiros de Sakkia e Narabanchi Kure.
Um de nossos Budas Encarnados e em Tashi Lama receberam dele uma mensagem escrita em letras desconhecidas sobre tabuletas de ouro. Ninguém sabia decifrar a escrita. O Tashi Lama entrou no templo, colocou as tabuletas sobre sua cabeça e começou a rezar. Por intermédio da oração, os pensamentos do Rei do Mundo penetraram em seu cérebro e ele conseguiu compreender e executar a mensagem do Rei do Mundo, apesar de não compreender aquelas letras.
— Quantas pessoas conseguiram chegar a Agharta? — perguntei-lhe.
— Muita gente já foi lá - disse-me o Lama. - Todos, porém, mantiveram em segredo as coisas que viram.

Evidências ou Mito? O Debate Sobre Ossendowski

A obra de Ossendowski causou grande impacto na época de sua publicação, mas também gerou polêmica. Alguns pesquisadores apontaram semelhanças entre suas descrições e as ideias de Saint-Yves d’Alveydre, sugerindo que ele poderia ter sido influenciado por escritos ocidentais. Outros, no entanto, destacam que sua viagem e os encontros que teve são bem documentados, e que os relatos sobre o Rei do Mundo já existiam muito antes de sua chegada ao Oriente.

Além disso, algumas expedições e investigações ao longo do século XX tentaram encontrar indícios da existência de Agartha, sem sucesso. No entanto, o impacto cultural do relato de Ossendowski permaneceu forte, influenciando ocultistas, escritores e até mesmo nazistas que buscavam por civilizações subterrâneas durante a Segunda Guerra Mundial. O que é certo é que seu livro mantém viva uma das lendas mais fascinantes da história, inspirando gerações a continuarem explorando os mistérios do mundo.

O Fascínio Pelo Oculto e o Legado de Ossendowski

O legado de Besta, Homens e Deuses vai além das discussões sobre sua veracidade. O livro é um testemunho de um tempo de mudanças drásticas, onde o misticismo e a realidade se misturavam em meio ao caos das revoluções e guerras. Ossendowski nos oferece uma visão de um Oriente profundamente espiritual e repleto de segredos que desafiam nossa compreensão.

Se o Rei do Mundo é um mito ou uma verdade oculta, essa é uma questão que continua aberta. O que não se pode negar é que a jornada de Ossendowski e seu livro seguem instigando a imaginação e a curiosidade daqueles que buscam pelos grandes mistérios da humanidade. Talvez a resposta não esteja apenas nas palavras que ele escreveu, mas na própria jornada que cada um de nós escolhe trilhar na busca pelo desconhecido.

A verdade está lá fora! Até o próximo!