A Teoria da Atlântida na África: Mitos, Mistérios e Mapas Perdidos
A história está repleta de mapas curiosos que, em diferentes épocas, sugeriram terras inexploradas ou mesmo lendárias. O livro The Phantom Atlas é uma coletânea dessas representações cartográficas enigmáticas, incluindo ilhas fictícias, terras desaparecidas e contornos que confundiram exploradores por séculos.
Entre essas misteriosas representações, eu encontrei um mapa de 1803 feito por Bory de St-Vincent, que sugere uma possível localização da Atlântida próxima ao deserto do Saara. Com isso vamos aprofundar nessa toca do coelho hoje e falar de várias localizações possíveis, especialmente levando em conta o continente Africano.
A Teoria Clássica: A Atlântida no Atlântico Norte
A Atlântida, imortalizada nos escritos de Platão, continua sendo um dos mistérios mais instigantes da humanidade. Seria um continente perdido submerso no oceano? Uma civilização esquecida? Ou apenas um mito filosófico com propósitos alegóricos? Várias teorias foram propostas ao longo dos séculos, e cada uma delas busca conectar indícios dispersos para tentar revelar a verdade por trás da lenda.
A ideia mais difundida sobre a Atlântida é que ela estaria localizada no Atlântico Norte, entre a Europa, África e as Américas. O jesuíta Athanasius Kircher, no século XVII, foi o criador de um dos mapas mais famosos da Atlântida, posicionando-a no meio do Atlântico Norte. Kircher baseava-se nas descrições de Platão, que afirmava que a ilha estava "além das Colunas de Hércules", o que hoje identificamos como o Estreito de Gibraltar.
Muitas organizações esotéricas e escolas de mistérios também afirmam a existência da Atlântida nessa localização. Uma das hipóteses é que essa civilização ancestral avançada foi destruída por um cataclismo conforme a história contada por Solon e se espalhou pelos continentes hoje nas Américas, Egito e Oriente Médio e até mesmo pela Ásia.
Outros teóricos, como Ignatius Donnelly, no século XIX, e W. Scott-Eliott, no século XX, reforçaram essa teoria. Donnelly argumentava que a Atlântida era o berço da civilização e que seu afundamento ocorreu devido a uma catástrofe natural. Scott-Eliott, por sua vez, incorporou elementos teosóficos, sugerindo que a Atlântida foi lar de uma civilização avançada espiritualmente.
Em um dos seus livros, Scott-Eliott apresenta dois mapas da antiga Atlântida: um em seu auge e o outro próximo ao seu declínio onde crava a localização do território principal no mesmo lugar desses autores mais antigos. Teria sido uma influência direta do ramo teosófico ou puramente pesquisa?
A Teoria da Atlântida na África ou O Olho do Saara
Uma das hipóteses mais intrigantes dos últimos tempos associa a Atlântida ao Olho do Saara que é a Estrutura de Richat, na Mauritânia. Eu particularmente vi essa teoria pela primeira vez no canal Bright Insight há anos e, mesmo cético, achei intrigante. Recentemente ao comprar o livro The Phantom Atlas fiquei mais surpreso ainda quando vi que essa ideia não é nova: O geólogo e explorador francês Bory de St-Vincent propôs, em seu mapa de 1803, que uma parte da lendária Atlântida poderia estar na região norte da África.
O Olho do Saara é uma estrutura concêntrica de anéis, o que remete à descrição de Platão sobre a cidade de Atlântida, cercada por anéis de terra e água. Além disso, as medidas citadas por Platão são bastante coincidentes com a estrutura natural. Embora não haja evidências definitivas de que tenha sido uma civilização antiga submersa, a região apresenta sinais de ocupação pré-histórica, levantando questionamentos sobre a possibilidade de que lendas sobre uma grande cidade tenham se originado dali.
O Mapa de Herodotus
Mas, voltando bastante no tempo, vamos falar aqui também do Mapa de Herodotus, que foi também considerado “O Pai da História”. Datado do século V a.C., ele não menciona diretamente o continente perdido da Atlântida, mas é uma das primeiras representações geográficas a incluir o termo "Atlantes".
Em seus relatos sobre a Líbia (norte da África), Heródoto descreve um povo chamado "Atlantes", que habitava uma região próxima ao Monte Atlas. Segundo ele, os Atlantes eram um povo peculiar, vivendo no deserto e evitando consumir carne, o que gerou especulações sobre sua origem e possível ligação com narrativas posteriores sobre uma civilização avançada e perdida.
Essa menção é significativa porque marca uma das primeiras vezes que o nome "Atlantes" aparece registrado em um contexto geográfico. O nome da mítica civilização poderia, então, ter raízes nas descrições dos povos norte-africanos, reforçando a hipótese de que Atlântida pode ter sido baseada em relatos antigos sobre civilizações reais na antiguidade.
O Plato Project de George Sarantitis
Uma outra teoria incrível que vi recentemente é a de George Sarantitis, apresentada no Plato Project. O pesquisador propõe que Atlântida não era uma ilha localizada no oceano, mas sim um vasto território que englobava toda a África Ocidental. Segundo sua hipótese, o coração da civilização atlante seria a formação geológica conhecida como Olho do Saara (Guelb er Richat), localizada na atual Mauritânia.
Sarantitis argumenta que essa estrutura circular natural, corresponde à descrição de Platão sobre a cidade principal de Atlântida, que possuía um sistema de anéis concêntricos de terra e água. Além disso, ele sugere que o antigo "continente-ilha" (nesos) descrito por Platão pode ter sido uma referência à África Ocidental em um período anterior à desertificação do Saara, quando a região era muito mais fértil e propícia ao desenvolvimento de uma civilização avançada.
O pesquisador também alega que ainda existem vestígios dessa antiga civilização ao longo de toda a costa ocidental africana, anteriores às sociedades egípcia e grega. Segundo ele, a confirmação arqueológica de tais traços poderia revolucionar a compreensão da pré-história da humanidade, indicando que uma cultura altamente desenvolvida existiu na região há milhares de anos, mas foi varrida por mudanças climáticas extremas. Assim, poderíamos ter a ideia de que a Atlântida foi um império africano próspero, cujo desaparecimento não foi causado por um afundamento literal, mas sim por um processo gradual de desertificação que transformou o Saara no deserto árido que conhecemos hoje.
O misterioso mapa do Dr. Paul Borchardt
Outra teoria interessante sobre a localização de Atlântida vem do Dr. Paul Borchardt, um arqueólogo e cartógrafo Alemão que mais tarde se envolveria em atividades de espionagem durante a Segunda Guerra Mundial. Borchardt baseou sua teoria em uma leitura minuciosa dos diálogos de Platão, Timeu e Crítias, nos quais a Atlântida é apresentada como um reino poderoso que sucumbiu à arrogância imperialista e foi destruído por catástrofes naturais. Diferente das interpretações clássicas, Borchardt acreditava que Atlântida não estava no oceano Atlântico, mas sim na costa norte da África, no território da atual Tunísia.
Segundo sua hipótese, o reino atlante era composto por duas regiões distintas. A primeira seria a cidade real, localizada em uma ilha dentro do Schott el Hanceima, uma depressão que se encontra abaixo do nível do mar e que, em tempos antigos, teria sido conectada ao Mediterrâneo. A segunda, a principal porção da ilha de Atlântida, estaria situada na costa norte-africana, em uma área que, segundo Borchardt, teria sido separada do continente no passado.
Para ele, as descrições de Platão não eram meras alegorias, mas referências concretas a uma civilização real que teria prosperado no norte da África antes de ser engolida por mudanças geológicas e inundações. Essa teoria reforça a possibilidade de que Atlântida possa ter sido um império norte-africano altamente desenvolvido, cuja destruição foi resultado de transformações naturais, e não de um afundamento no oceano.
A Teoria da Atlântida na Indonésia
Eu já falei em um conteúdo que o cientista brasileiro Prof. Arysio Nunes dos Santos propôs uma teoria alternativa e bastante controversa: a Atlântida poderia estar localizada no sudeste asiático, em uma região que hoje abriga a Indonésia. Segundo o professor, os eventos descritos por Platão poderiam ter ocorrido durante o fim da última Era do Gelo, quando grandes partes do sudeste asiático foram submersas devido ao derretimento das calotas polares.
Essa teoria, apesar de sugerir um local bastante diferente das outras, sugere que a Atlântida não era uma ilha específica, mas uma região próspera que foi gradualmente inundada pelo aumento do nível dos oceanos. Essa é uma visão diferente da tradicional, fundamentada em grandes pesquisas e evidências científicas, e abre novas possibilidades para a discussão sobre civilizações desaparecidas e nascentes em toda a Ásia e Índia.
Se você não viu, vale a pena. Vou deixar o link aqui para você aprofundar.
A Teoria do Atlântida no Mediterrâneo
Alguns estudiosos acreditam que a Atlântida pode ter sido uma civilização localizada no Mar Mediterrâneo. Essa hipótese sugere que Atlântida poderia estar ligada à ilha de Santorini, na Grécia, ou à civilização minoica em Creta. Santorini foi palco de uma das maiores erupções vulcânicas da história, destruindo boa parte da ilha e possivelmente dando origem ao mito de um grande império que desapareceu repentinamente.
Lembro bem dessa teoria por meio de um dos jogos que eu mais gostava na minha infância: Indiana Jones and the Fate of Atlantis. Era por ali, em Creta, que no final das contas estava escondida no fundo do mar a grande cidade mítica. Mas, apesar de me inspirar muito na época e até hoje, é apenas uma história cativante de um joguinho de computador.
A civilização minoica possuía um sistema avançado de arquitetura e organização social, o que poderia ter inspirado as descrições de Platão. No entanto, a localização mediterrânea entra em conflito com a indicação de que Atlântida estaria "além das Colunas de Hércules" que se especula estar localizada no estreito de Gibraltar. Uma série de anti-evidências e até mesmo de falta de evidências em um local de acesso tão fácil e conhecido também põem a prova a teoria de que a Atlântida era logo ali do lado do próprio Platão.
E então? O que é verdade e o que é mito?
Mais uma vez, meu objetivo aqui não é convencer ou dizer o que é certo ou errado. Meu objetivo é explorar, aprender e colocar à prova teorias, fatos e observações reais por meio das viagens, livros e relatos. Cabe a você estudar e construir sua própria hipótese baseado naquilo que você acredita e no bom senso.
Há anos sou um estudioso da Atlântida e já fui em várias partes do mediterrâneo, Ásia e até das américas buscando fragmentos dessa lenda. Esse é o poder da exploração: impulsionar a evolução por meio da curiosidade e da ciência, sem negar ou afirmar, mas simplesmente experimentando.
E aí? Qual a sua teoria? Lembrem-se que a verdade está lá fora. Um abraço! Até o próximo.