Os Paralelos de Matrix e "Em Busca do Ser" de Gurdjieff

Se você é fã de Matrix, aprendiz, talvez goste bastante das filosofias de Gurdjieff. A grande sinergia do filme com as filosofias do grande Mestre Armênio sem dúvida não são mera coincidência considerando que o filme é recheado de referências místicas.

Mas, afinal quem foi Gurdjieff?

Gurdjieff ensinou a filosofia do autoconhecimento através da lembrança de si mesmo, transmitindo a seus alunos o que aprendera em suas viagens pela Ásia. Sua jornada foi retratada no filme “Encontros com Homens Notáveis” que pode ser achado na rede com facilidade.

Mas, vamos aos pontos centrais que tive a honra de aprender em sua grande obra “Em busca do Ser”:

1.      Somos todos máquinas

Gurdjieff coloca um ponto bastante polêmico para aqueles que são reativos a ideia da escravidão pessoal: Somos todos máquinas.

Esse pensamento do Mestre se refere aos nossos comportamentos, pensamentos e ações automatizadas devido às doutrinações pessoais que sofremos desde o nosso nascimento. Religiões, Culturas, Escolas, Governos, todas essas coisas contribuem de forma crescente para a nossa automatização frente as coisas que pensamos e fazemos.

Gurdjieff também propõe que se livrar do comportamento mecanizado é o desafio supremo de cada um. Aqueles que pretendem chegar a um estado de consciência superior devem ser em primeiro lugar conscientes que são máquinas, para depois abandonar aos poucos esse status por meio de ações disciplinadas e auto-observadas.

2.      Estamos dormindo a maior parte do tempo

Considerando que já que somos máquinas, segundo Gurdjieff, estamos todos também de certa forma dormindo.

Assim como no Matrix, os seres humanos são parasitados enquanto dormem e sonham com uma realidade mecanicista de dores e prazeres. Talvez esse mecanismo seja até mesmo uma autodefesa para não sentirmos toda a responsabilidade e dor da mudança de uma evolução maior.

Gurdjieff ainda fala em sua obra que em raros momentos temos despertares, onde tudo fica muito claro e conseguimos vislumbrar por um instante a essência real das coisas. Esse momento pode se configurar como Inspiração, Iluminação ou Intuição, mas em um breve instante voltamos novamente a dormir dentro do nosso mundo mecânico.

O caminho da virtude, segundo o mestre, é o caminho do despertar completo e constante.

3.      Somos muitos “Eus” dentro de um Eu

Esse é um dos conceitos mais incríveis do “Em busca do Ser”: Somos muitos Eus, dentro de um só Eu.

Para você entender melhor, temos:

O centro do pensamento que é responsável pelo lado racional, planejamentos e outras coisas que são processos bastante lentas comparadas com os outros centros.

O centro das emoções que é responsável pela afetividade, apego, sentimentos e alguns impulsos bastante rápidos que as vezes sequer controlamos com maestria.

O centro do movimento que é responsável pelos reflexos, ações, palavras e qualquer expressão física e está ligado aos outros centros.

O que é crítico aqui é que esses centros podem estar *e quase sempre estão* em conflito uns com os outros. Quem nunca desejou uma coisa de forma consciente e racional, mas infelizmente só consegue colher o inverso por meio de emoções contrárias? Ou então aquela autossabotagem que infelizmente atrapalha você sempre na hora de fazer algo importante?

Gurdjieff cita de forma brilhante a metáfora da carruagem onde a mente é o cocheiro, as emoções são os cavalos, e o movimento é a carruagem. Se cada um faz o que quer, dentro dos seus limites e hábitos, você nunca chega aonde deveria.

Todos nós somos falhos. O grande objetivo aqui é fazer esses centros estarem completamente alinhados por meio do autoconhecimento profundo que só pode ser alcançado por meio do quarto elemento: O Observador.

4.      Precisamos de ajuda para sair da “Matrix”

Dito tudo isso, Gurdjieff faz outra declaração bastante forte, mas real: Precisamos de ajuda para sair da Matrix.

Muitos buscam o autoconhecimento e aprendizado de forma solitária, mas a forma mais simples de conquista-los é por meio de outras pessoas. Sábios, Guias, Filósofos, Orientadores, Cientistas... Todas essas pessoas, mesmo que não estejam de corpo presente podem te ajudar por meio de livros, vídeos e conteúdo.

Além disso, outras pessoas podem enxergar você melhor que você mesmo, então tente sempre recorrer à ajuda de grandes amigos e familiares para darem feedbacks realistas sobre o seu eu e agregar mais autoconsciência a sua existência.

No filme Matrix, esse processo é bastante visível pelo resgate de Neo (Novo) pela Trinity (Trindade) e Morpheus (Deus do Sono). Além disso, vários outros parceiros ajudam o novato Neo na sua jornada da divisão e fragilidade até a consciência suprema de que ele é o One (Único).

Bem. Agora que você chegou até aqui, saiba: sair da Matrix é só o começo.